(*) Por TJGuimarães
Sobre a cabeça, os aviões | Sob os meus pés, os caminhões | Aponta contra os chapadões | Meu nariz…
Tropicalismo ou Tropicália foi um movimento cultural brasileiro, cheio de propostas “anárquicas”, concentrado entre os anos de 1960 e 1969, que marcou profundamente muitas formas de expressão artística, como a música, o cinema, o teatro, a poesia e as artes plásticas. A proposta desse movimento era de ter um diálogo constante e próximos com as mais diferentes influências que estavam à disposição naquela época. Sem maiores preconceitos ou recalques, se aproximavam do samba, do rock’n’roll, da bossa nova e também das canções românticas (na época não existia o conceito de brega). Apesar das perseguições políticas e censura promovidas pelo Estado na época, o Movimento Tropicália também não deixou de fazer debates políticos importantes e produzir leituras críticas sobre as realidades brasileiras de então, por meio das suas múltiplas formas de expressão.
E tudo começou com o Festival de Música Popular Brasileira. Inaugurado em 1965. Foi um concurso anual de canções originais que revelou muitos talentos considerados hoje clássicos da música brasileira, tais como: Elza Soares, Chico Buarque, Elis Regina, Nara Leão, Roberto Carlos, Os Mutantes (com Rita Lee), entre outros. Foi a partir desse evento que, em 1967, na terceira edição, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes chacoalharam a tradicional e/ou conservadora música brasileira. Trazendo novos elementos às canções, os artistas apresentaram nesse festival, respectivamente, “Alegria, alegria” e “Domingo no Parque” – interpretada mutuamente por Gil e Os Mutantes.
O nome do movimento surgiu a partir de uma obra ambiência de Hélio Oiticica que recebeu o título de Tropicália, montada em 1967 em uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Tempos depois, Caetano Veloso compôs uma música que recebeu o mesmo nome – que foi outro marco para esse movimento. Vale ressaltar que grande parte desses artistas, sobretudo da música, veio especialmente da Bahia e, teve como cenário, as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, cada uma a seu modo. No Rio, manifestaram-se mais as expressões musicais e as artes plásticas, ao passo que, em São Paulo, destacaram-se obras do cinema, da poesia concreta e do teatro. A bem da verdade, o nome ficou definitivamente conhecido foi a partir de uma coluna do jornalista Nelson Motta, de nome Cruzada Tropicalista que teve grande repercussão em jornais, rádio e televisão que passaram a se referir ao movimento de Gil, Mutantes e Caetano como Tropicalismo.
Ressalte-se que esse movimento não possuía unidade objetiva. Entretanto, uma das suas principais características que pode sintetizar esses propósitos, consistia em uma tentativa de reinterpretar e/ou redescobrir o Brasil, ou seja: seus valores, símbolos nacionais outrora esquecidos, heróis inimagináveis, temas negligenciados. Ao mesmo tempo, havia também uma ideia de atualizar, de absorver, de incorporar elementos exóginos, no teor da dinâmica recente da indústria cultural nacional e, de forma antropofágica, devolver ao exterior uma versão “genuinamente brasileira” ou tupiniquim.
Em junho de 1968, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Capinam, Tom Zé, Nara Leão, Gal Costa, Os Mutantes e Rogério Duprat lançam o álbum Tropicália ou Panis et Circencis – um manifesto musical do movimento. Nessa obra, as principais referências dão-se como uma mescla entre a música popular brasileira, o rock’n roll, o concretismo e a cultura pop.
Nas demais artes, pode-se destacar Seja Herói, Seja Marginal e Tropicália (Penetráveis PN2 “Pureza é um mito” e PN3 “Imagético”), de Hélio Oiticica. É importante destacar também o livro manifesto do autor de poesia concreta Augusto de Campos, O balanço da bossa. No teatro, a peça O rei da vela, de José Celso, além de toda sua influência no Grupo Oficina. E no cinema, o Tropicalismo também exerceu fortes influências, sobretudo, no Cinema Marginal, com diretores como Rogério Sgarzela, Andrea Tonacci, Glauber Rocha dentre outros.
Em dezembro de 1969, Gilberto Gil e Caetano Veloso são presos e, posteriormente, exilados, após apresentação em uma boate no Rio de Janeiro ao lado de Os Mutantes. O exílio desses dois principais representantes do movimento acabou marcando o fim do mesmo e, consequentemente, da efervescência cultural da Tropicália. Porém as incorporações/mudanças foram definitivas.
(*) Historiador, Jornalista, Professor História/Geografia/Filosofia/Sociologia