MOREIRA DA SILVA – KID MORENGUEIRA (O ÚLTIMO DOS MALANDROS)

MOREIRA DA SILVA – KID MORENGUEIRA (O ÚLTIMO DOS MALANDROS)

Data:

(!) Por TJGuimarães

Moreira da Silva nasceu e viveu no começo do século vinte, 1902, quando o Rio de Janeiro estava em transformação, com a inauguração das primeiras salas de cinema. A cidade era a capital da República e sua cultura e tipos populares definiam a identidade do povo brasileiro. Assim como hoje, o Rio já era uma cidade dividida, onde os ricos frequentavam os cafés e teatros do centro e os artistas se espalhavam pela Lapa e zona boêmia do mangue. Contemporâneo de Noel Rosa ele acompanhou o início da interação do samba com a elite carioca.

Com trânsito fácil entre o morro e o asfalto, ele soube explorar a linguagem e a malícia que ajudaram a criar a figura do malandro carioca. Um tipo que ele trouxe dos batuques de rua para o rádio e, mais tarde, para a televisão e que manteve atual durante os 97 anos em que viveu.

Os anos 30 e 40 foram os mais criativos da sua carreira, no rádio e nos cassinos, um universo em que foi rei absoluto. Quando gravou o segundo disco, “O último malandro”, em 1958, adotou o terno branco, sapato bicolor e chapéu panamá. A sua amizade com o poeta e radialista Miguel Gustavo começa nesta fase. Juntos, criaram e deram vida ao personagem Kid Morengueira, uma mistura bem dosada de herói e malandro com que Moreira da Silva deixou seu nome, para sempre, na história da MPB.

Também conhecido como Kid Morengueira, teve infância e juventude muito pobres. Aos 20 anos iniciou sua carreira de sambista e compositor. Criou o famoso “samba de breque”, ritmo que inclui frases ditadas no meio da música, um marco da época. Apesar da fama de malandro, nunca o foi realmente, apenas um compositor genial, irreverente e inovador.

Ele somente começou a fazer sucesso quando caiu no samba, gravando em 1932 Arrasta a sandália (Aurélio Gomes e Baiaco), um dos hits do Carnaval de 1933.

Notabilizou-se pelos sambas de breque que compôs e interpretou, tornando-se o maior nome neste gênero musical. Sua primeira intervenção improvisada foi em 1937, durante uma apresentação no Teatro Meyer, no Rio, quando interrompeu bruscamente o acompanhamento do samba “Jogo proibido”, de T. Silva, D. Silva e R. Cunha e inseriu uma frase no compasso. Neste mesmo ano, César Ladeira, responsável pelo apelido artístico “Moreira da Silva”, ouviu-o cantar no Cassino Atlântico e convidou-o para trabalhar na Rádio Mayrink Veiga.

Com a fama de malandro, passou a interpretar um personagem nos enredos de seus sambas de breque, Kid Morengueira, presente no enorme sucesso “O rei do gatilho”, de Miguel Gustavo, que originou uma série de sambas do mesmo autor, que ele gravou dentro do tema cinematográfico. O disco de maior sucesso dentro deste tema foi “O rei do gatilho”, de 1962.

Em 1989, pelo selo Fama/CID, o LP “50 anos de samba de breque”, no qual interpretou seus maiores sucessos e outras músicas como “Fui ao dentista”, de Cícero Nunes e Sebastião Fonseca; “Cidade lagoa”, de Cícero Nunes e Sebastião Fonseca e “Fenômeno”, de Nilton Moreira e Joaquim Domingos, além do pot-pourri: “Aquele retrato lindo”, com M. Micelli; “Implorar”, de Kid Pepe e Germano Augusto; “Abre a janela”, de Arlindo Marques Jr. E Roberto Roberti; “Até amanhã”, de Noel Rosa; “É bom parar”, de Rubens Soares e “Que samba bom”, de Geraldo Pereira e Arnaldo Passos.

Em 1992, foi homenageado pela Escola de Samba Unidos de Manguinhos, que desfilou com o samba-enredo “Moreira da Silva – 90 anos de um malandro”. Em 1995, apresentou-se com grande sucesso no Teatro João Caetano, no “Projeto Seis e Meia”. Nesse ano, lançou seu último disco, o CD, “Três malandros in Concert”, em parceria com Bezerra da Silva e Dicró, uma sátira ao disco “Três tenores in Concert” , de Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti.

Em 1996, seus 94 anos de idade foram comemorados na Boite Ritmo, em São Conrado, Rio de Janeiro, com participação especial de vários artistas. Ainda em 1996, virou tema de livro com o lançamento de “Moreira da Silva – O último dos malandros”, de Alexandre Augusto.  Em 1998, participou do CD comemorativo “Brasil são outros 500”, gravando as faixas “Amigo-urso” e “Resposta ao amigo”, cantando em duo com Gabriel O Pensador.

Seus maiores sucessos foram “Acertei no milhar”, de Wilson Batista e Geraldo Pereira; “Amigo-urso”, de Henrique Gonçalves, “Fui a Paris” e “Na subida do morro”, com Ribeiro Cunha. Até seus 98 anos de idade, apresentava-se constantemente em shows. Foi assim que chegou aos 69 anos de carreira, com 20 discos lançados, mais quatro CDs e mais de 100 discos em rpm. Conviveu com músicos das mais variadas gerações e estilos, desde Pixinguinha até Gabriel O Pensador, passando por Chico Buarque de Holanda, Ary Barroso, dentre outros.

Morreu em 2000, quando foi homenageado com um show beneficente no Canecão, destinado a pagar dívidas contraídas no hospital, dirigido por Ricardo Cravo Albin, que reuniu diversos artistas como Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Sandra de Sá, Elza Soares, Carmen Costa, Emilinha Borba, Jads Macalé e Billy Blanco. Em 2001, foi homenageado por Jads Macalé no CD “Macalé canta Moreira”.

 

(!) Historiador, Jornalista, Professor de História/Geografia/Filosofia/Sociologia

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