(*) Por TJGuimarães
Ser mineiro não é apenas uma questão geográfica (Estado de Minas); é antes de tudo, um estado de espírito.
“UAI” é uma interjeição muito utilizada no nosso Estado de Minas Gerais com o significado de dúvida, espanto, surpresa, nada ou tudo. É um dos símbolos da linguagem e cultura mineira e um termo muito utilizado para fazer referência aos mineiros.
ALGUMAS DAS NOSSAS MINEIRIDADES
É esperar pela cor da fumaça. É dormir no chão pra não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão na cumbuca. É não dar passo maior que as pernas. É não amarrar cachorro com linguiça.
– Cê ta joia? – Você está bem, tudo legal, ótimo.
– Cê dá trabai dimais – Você dá muito trabalho, incomoda, importuna, preocupação.
– Cê mexe com que? Com o que você trabalha, qual a sua atividade profissional?
– Cê qui sabi – Você é quem sabe.
– Cê tá uma marmota – Ridículo, de mau gosto, com a aparência feia.
– Chispa daí – Sai daí depressa, sai fora rápido.
FOGÃO A LENHA
No interior mineiro o fogão a lenha ainda está presente nas cozinhas, como há séculos. Dizem que não existe unanimidade, mas em se tratando de fogão a lenha, com certeza, todos afirmam que a comida tem um sabor diferente da feita no fogão a gás. É sem dúvida, a comida mais gostosa. Essa é a única unanimidade que eu conheço. Ainda mais aquela comida feita em panelas de ferro ou de pedra sabão. A figura do mineiro proseando a beira de um fogão a lenha é real, tradicional e comum até os dias de hoje no nosso interior, seja na zona rural ou na cidade.
MANCEBO E COADOR DE PANO
Mancebo é uma armação maior em madeira ou ferro que sustenta o coador. Nesse caso, o bule é grande e o coador também. Isso porque as famílias antigamente eram numerosas. Para as famílias pequenas existe a mariquinha, que é mesma coisa do mancebo, mas só que bem menor, com um pequeno coador e uma caneca esmaltada, no lugar do bule. Seja num mancebo ou numa mariquinha, coar café no coador de pano é identidade de nosso povo do interior, desde os tempos antigos até os dias de hoje.
FORNO DE BARRO
Esse não falta nos quintais dos sítios e fazendas de Minas e em muitas cidades também. Para assar broas, pão de queijo, biscoitos, roscas e rosquinhas são os preferidos. Junto com o fogão a lenha, valoriza ainda mais a nossa rica culinária bem como o jeito mineiro de ser.
ORATÓRIO
Antigamente existiam muitas comunidades rurais e os padres tinham dificuldades em dar atenção a todos. A fé e religiosidade do povo mineiro sempre foram fortes e mesmo na ausência da Igreja em suas comunidades, não deixavam de manifestar sua fé. Assim surgiram as rezas semanais do terço, cada semana em uma casa diferente, onde todos da comunidade compareciam, já que não tinha como ter missa todos os domingos. Em cada casa tinha um pequeno oratório, onde as famílias rezavam. A prática de ter um oratório em casa existe até os dias de hoje. Faz parte das tradições mineiras e demonstração de fé do nosso povo. A simplicidade da fé e religiosidade à flor da pele.
SINO
Mais de 70% do patrimônio histórico nacional está em Minas Gerais, principalmente igrejas. São milhares de igrejas por todo o Estado. As igrejas mais antigas têm duas torres, cada uma com um campanário para sino. As mais modernas, uma torre apenas. Isso fez com que nosso Estado fosse considerado a terra dos sinos. Tocar sino é uma arte. O sineiro é um artista que entende e muito de música. O badalar dos sinos e a profissão de sineiro, são reconhecidos. Tanto é que o badalar dos sinos em Minas é Patrimônio Imaterial do Estado, reconhecido pelo IEPHA.
CARRO DE BOI
Antigamente, carro de bois era um trem que servia pra tudo. Era carro funerário, transportava mercadorias, servia de lotação e nas fazendas, era pau pra toda obra. O ouro de Minas ia para o porto de Paraty em carros de bois. Com o surgimento da indústria automobilística, foram com tempo caindo em desuso, se restringindo a poucas atividades nas fazendas. Mas é uma das mais nostálgicas identidades mineiras, tanto é que todos os anos, praticamente em toda Minas, as carreadas de carros de bois estão presentes.
FESTA DE REINADO / CONGADA
Nesta festa, se louva Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, lembrando-se da proteção que esses santos deram aos escravos negros. Em algumas congadas, se recorda a figura de Chico Rei e da luta entre cristãos e mouros.
As cores vivas dos estandartes e das roupas coloridas dos “reinadeiros” revelam a mais pura identidade religiosa mineira. As comemorações começam em julho e se estendem até outubro por todas as cidades mineiras. Antes uma festa de origem negra, hoje ela é festa de toda mineirada, expandida para outros estados brasileiros.
ESSE ASSUNTO FOI BÃO DIMAIS, NÉ?
(!) Historiador, Jornalista, professor de História/Geografia/Sociologia