(!) Por TJGuimarães
Onde o mineiro estiver ele carrega consigo as suas identidades. Seja no jeito de falar, de expressar ou nos gostos, principalmente, culinários. Em termos de comida então?! O mineiro é muito original.
O mineiro sabe perfeitamente identificar um queijo mineiro de verdade. Se o queijo não é de Minas Gerais, só de olhar ele já sabe. Nem precisa experimentar. Se a comida é realmente mineira, feita de acordo com as tradições culinárias de Minas, ele percebe facilmente. Isso se chama identidade com Minas Gerais, coisa que só mineiro entende. Está na alma e no coração mineiro.
Ser mineiro é esperar pela cor da fumaça. É dormir no chão pra não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão na cumbuca. É não dar passo maior que as pernas. É não amarrar cachorro com linguiça.
- Ser mineiro não é apenas uma questão geográfica, é antes de tudo, um estado de espírito.
- Ser mineiro é sair de Minas, mas Minas Gerais nunca sair dele.
- Ser mineiro é fazer da cozinha o melhor lugar da casa.
- Ser mineiro é passar a noite inteira em um ônibus e ainda não sair de Minas. As montanhas parecem continentes, mas fazem tudo parecer pertim.
- Mineiro vai a velório não pelo defunto, mas para conferir quem continua vivo.
ALGUMAS DAS NOSSAS MINEIRIDADES
– Chovê issaí – Deixe-me ver isso aí, me mostre.
– Coitádocê – Coitado de você = pena, dó. Pode ser também desdém, incapaz.
– Coméquivai? – Como é que eu encontro esse lugar, como chego nesse endereço?
– Cêmês quifaiz? – É você mesmo quem fez?
– Cê tá intendenu? – Você está entendendo, compreendeu?
UAI
Dificilmente mineiro não fala UAI. Mesmo o mais erudito dos mineiros, vez ou outra deixa escapar um UAI. Isso porque o UAI está na nossa raiz, na nossa origem, na nossa alma, no nosso mineirês desde o ciclo do ouro. UAI é a primeira das nossas identidades. Essa interjeição é tão automática que sai sem querer uai.
– Alguém lhe pergunta: você é mineiro?
E ocê responde: uai? Comé qui cê sabe?
TREM
Em Minas trem é tudo e tudo é um trem, mas um trem não é necessariamente, um trem. Pode ser uma comida, uma rua, uma casa, uma roupa, uma árvore, um ônibus, um carro, um avião, um computador, um cisco no olho… Em Minas a palavra trem serve para qualquer trem (troço, qualquer coisa).
QUEIJO
Queijo corre nas veias do mineiro desde o início (?). É tradição mineira fazer queijo. Seja fresco ou curado, no café ou no preparo das quitandas, mineiro, Minas e queijo é tudo de bom; junto e misturado.
PÃO DE QUEIJO
Do queijo surgiu uma das mais deliciosas quitandas do mundo. O nosso pão de queijo. Mineiro nunca fala “pão de queijo mineiro” porque o pão de queijo é mineiro. Se existe outro tipo de pão de queijo sem ser o mineiro, é cópia mal feita. O mundo todo sabe que pão de queijo é de Minas Gerais, a mais fina identidade mineira, tão importante quanto nosso Uai. Falou em Minas, vem logo à mente, pão de queijo. É danado de bom.
QUEIJO COM GOIABADA
Há mais de 200 anos que o casamento do queijo com goiabada faz parte da nossa identidade. Nossa mais importante sobremesa. A partir da década de 1960 o Brasil e o mundo passaram a conhecer melhor nossa sobremesa e foi só provarem para colocá-la no cardápio. Hoje está presente em todos os cantos do mundo. Faz muito tempo que nós mineiros sabemos disso. É a cara de Minas. Nénão?
GOIABADA CASCÃO
Uma das mais gostosas identidades mineiras. A receita saiu das senzalas para nossa mesa. Eles faziam o doce cremoso de goiaba normal, com a polpa da goiaba para os senhores do engenho. E nas cozinhas das senzalas, eles aproveitavam a casca inteira mais a polpa e fazia para si o doce que chamavam de goiabada. Pela grande quantidade de cascas grandes da fruta que ficavam à mostra no doce, acrescentaram a palavra cascão. Assim ficou, goiabada cascão, mais apreciada que o doce comum de goiaba. São Bartolomeu, distrito de Ouro preto, É famoso pela sua Goiabada Cascão
DOCE DE LEITE
Minas sempre foi destaque na produção de leite no Brasil. Atualmente é o maior produtor e claro, produz o melhor doce de leite. Ainda estamos numa briga danada com os argentinos, sobre quem inventou o doce de leite. Nós mineiros ou os hermanos. Eu tenho certeza que fomos nós, isso faz tempo, desde o século 18 o doce de leite existe em Minas. Mas deixa essa briga pra lá, o importante é que doce de leite é uma das mais antigas e fortes tradições da nossa culinária.
BOLO DE FUBA ASSADO NA BRASA
Num tempo em que não existia trigo no Brasil, logo ali no início da colonização, o fubá e o polvilho eram os ingredientes para tudo. Do fubá surgiram várias receitas tradicionais mineiras, como as broas e o bolo de fubá na brasa. Além do trigo, não existia fermento, mas existia bicarbonato e fogão a lenha. Não tinha forno de barro ainda não. A criatividade mineira se sobressaiu. A massa era feita, colocada numa panela de ferro e ia para o fogão em brasa. Por cima colocavam uma chapa de ferro e brasa ardente. Quem já experimentou bolo assim sabe o quanto é saboroso. E o cheiro exala pela casa toda e fica guardado em nossa memória aquele cheirinho bom. Essa broa com um cafezinho é por demais de bom. Nénão?!
O TREM NÃO ACABOU NÃO. DEPOIS TEM MAIS, UAI!
(!) Historiador, Jornalista, professor de História/Geografia/Sociologia