POSADA, JOSE GUADALUPE – UM RECORTE DA CULTURA MEXICANA

POSADA, JOSE GUADALUPE – UM RECORTE DA CULTURA MEXICANA

Data:

Por TJGuimarães

Posada, Jose Guadalupe – um recorte da cultura mexicana – (Un homenaje a la muerte mientras si tiene vida)

 

A MORTE SOB OUTRO PONTO DE VISTA – A FINITUDE CARA A CARA!

José Guadalupe Posada; Aguascalientes, 1852 – ciudad de México, 1913. Pintor, gravurista e caricaturista mexicano, famoso por suas litografias com cenas de morte, estampas populares, caricaturas sociais e políticas, inspiradas no folclore mexicano e principalmente sobre a temática da morte, que é central para a Festa do Dia dos Mortos, importante data comemorativa para o México, que é celebrada nos dias 1 e 2 de novembro, ainda que em alguns lugares, a celebração comece desde o dia 31 de outubro.

As graves inundações que assolaram León – onde morava – em 1888 o obrigaram a mudar-se para a Cidade do México, donde lhe fizeram ofertas para trabalhar em importantes empresas editoriais, entre elas a de Irineo Paz. Nesta, elaborou centenas de gravuras para numerosos jornais: La Patria Ilustrada, Revista de México, El Ahuizote, Nuevo Siglo, Gil Blas, El hijo del Ahuizote, etc.

Suas gravuras repletas de caveiras, contemplam tanto criações próprias como releituras de importantes obras do mundo das artes, como Dom Quixote. As caveiras eram e são partes da tradição mexicana e fruto do barroco latino-americano e, são seus personagens mais populares.

Ele possuía um talento natural para a gravura, mas foi obrigado a superar uma empedernida oposição familiar. Depois de vencida esta barreira, seu pai permitiu que ingressasse, aos 16 anos, no ateliê de Trinidad Pedroso, reputado mestre de quem aprendeu os princípios, métodos e segredos da arte litográfica. Com uma aptidão inata para a caricatura, seu mentor o introduziu no mundo do jornalismo e da indústria gráfica como desenhista, logrando publicar suas primeiras vinhetas no jornal El jicote (1871), quando tinha somente 19 anos.

Sua obra abarca múltiplos temas, entre os quais cabe destacar as célebres “calaveras” ou imagens de além da morte/túmulo; os “desastres“, que compreendem catástrofes de tipo natural (inundações, epidemias, sucessos astronômicos, nascimentos de seres monstruosos), acidentes, fatos sobrenaturais, crimes e suicídios; os exemplos ou lições morais que podem extrair-se ante a perversidade e bestialidade humanas; sucessos sociais e políticos, donde sobressaem as vinhetas referidas às execuções e os “corridos” revolucionários; os milagres religiosos; a serie denominada Don Chepito, que narra as desventuras de um bacharel ridículo, uma espécie de anti-herói; assim como as imagens captadas da vida cotidiana com inigualável precisão e intenção certeira.

A partir de 1890, seus trabalhos gráficos ilustraram publicações, de carácter nacionalista e popular, do impressor Antonio Venegas Arroyo: historietas, liturgias de festivais, orações, cancioneiros, lendas, contos e almanaques, destacando La Gaceta Callejera e as folhas soltas (como uma única página de jornal ou jornal de poste) que incluíam imagens e informações resumidas de carácter diversos sobre “acontecimentos do momento“.

Posada foi um artista cuja obra ficou para a posterioridade por muitas razões, uma delas é a sua presença na vida cotidiana do povo mexicano. Ele captou como poucos, todas essas histórias da vida cotidiana: o silencio, a marginalidade, a tragédia, a dor, o sorriso, a zombaria, a miséria, o pranto, o prazer, a vida, a morte, o branco, o negro, o pecado, o perdão, o amor, o mexicano. Além de qualquer adjetivo, Posada, como poucos artistas, transcendeu no que somos, na imagem de um artista mexicano que se converteu em universal.

Com ele, também nasceu a gráfica mexicana contemporânea.  Sua iconografia, composição e seu traços são excepcionais; o manejo do branco e do negro é perfeito e, a maneira de abordar as temáticas de seu tempo foram rompedoras e ainda o são. Suas obras mais populares e importantes foram realizadas com o impressor Antonio Vanegas Arroyo. Milhares de imagens saíram desse ateliê para ilustrar jornais, livros, revistas e cartazes da época.

Diferentemente do Brasil onde o Dia de Finados é um clima de nostalgia, quando as pessoas se dedicam a sentir tristeza, saudades, homenagear e fazer missas para entes queridos e amigos falecidos, tendo a esperança de que foram recebidos de braços abertos no paraíso por Deus; no México as coisas são bem diferentes… Os mortos são homenageados com grandes festas, regadas de tradições, músicas, bebidas, brincadeiras, bolos e doces em formatos de caveiras e ossos. Estas festas receberam tanto reconhecimento internacional, que além de receberem turistas do mundo inteiro todos os anos, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) declarou este evento como patrimônio da Humanidade.

Além do México, “El Dia de los Muertos” também é celebrado em vários países da América Central e nos Estados Unidos, em regiões onde há maior concentração de população mexicana.   No México a origem desta celebração é anterior à chegada dos Espanhóis, pré-hispânica e, nesta época, era comum a preservação de crânios como se fossem troféus e depois, eram exibidos durante os rituais que celebravam a morte e o renascimento.  Mas existem relatos de que os povos Maias, Astecas, Purépechas, Náuatlese Totonacas, já realizavam cultos e rituais onde era feita a celebração de ancestrais, há pelo menos 3 mil anos.

La Catrina, conforme o folclore mexicano, pode se mostrar de muitas formas e leva muitos nomes: La calavera, la dama de velo, La huesuda, La sindientes, la matadora, etc. Algumas vezes essa senhora se apresenta de forma alegre, com vestidos elaborados, doida para se divertir e seduzir os mortais. Noutras, se mostra em “puro osso“, pronta para nos levar dessa para melhor a qualquer momento, sem ao menos nos avisar. La Catrina como símbolo popular da morte (um dos símbolos dentro de toda cosmovisão e cultura mexicana frente à morte) foi batizada como tal pelo Muralista Diego Rivera (1886-1957), ainda que em suas obras encontremos representações desta dama clara, elegante e magra, não foi o primeiro a incluir em sua obra, já que foi José Guadalupe Posada (1852-1913) o precursor desta representação.

A influência da sua obra chegou posteriormente a Diego Rivera, quem readaptou o conceito. Rivera, no Mural: “Sueño de una tarde dominical em la Alameda Central”, faz um “Fashion Emergency” à Calavera Garbancera, lhe acrescentando novos atributos. Daí em diante ficou conhecida definitivamente como “La Catrina”. Foi uma homenagem de humildade e reconhecimento da importância e qualidade da obra do conterrâneo.

Posada morreu, tão pobre como havia nascido, na Cidade do México, em 1913. Seus restos mortais, que ninguém reclamou, foram sepultados em uma cova comum.

(!) Historiador, Jornalista, Professor de História/Geografia/Sociologia

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Compartilhar:

Popular

Mais postagens como esta
Related

CONHEÇA A FROTA MODERNIZADA DO TREM DE PASSAGEIROS DA ESTRADA DE FERRO VITÓRIA A MINAS

Viajar de trem por uma das paisagens mais deslumbrantes...

BR-381 É A RODOVIA COM MAIS MOTORISTAS BÊBADOS AUTUADOS PELA PRF EM MG

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou aumento de 20,9%...

REPACTUAÇÃO DE MARIANA: DECRETO QUE CRIA O FUNDO RIO DOCE SERÁ PUBLICADO NESTA QUINTA (21); VEJA TEXTO

Criação do fundo foi elaborada pela negociação do acordo;...

JUSTIÇA OBRIGA MUNICÍPIO DE MG A PRESERVAR CASARÃO EM RISCO DE DESABAMENTO

A Justiça determinou que o município de Itabira, na região...