(*) Por TJGuimarães
TUDO SENTIU, DISSE E FEZ!!!
Completando 75 anos de vida, Ângela Ro Ro, cantora que foi considerada pela revista Rolling Stone, a trigésima terceira maior voz da música brasileira. Além de grande intérprete, Ro Ro se destaca como compositora e também pianista.
Ângela Maria Diniz Gonsalves, que nasceu no dia 5 de dezembro de 1949, na cidade do Rio de Janeiro, recebeu o apelido de Ro Ro devido à risada grave e a sua voz rouca; características que fazem também o diferencial da voz dessa representante da música brasileira.
Ângela Ro Ro começou sua carreira artística nos anos 1970, como atriz e cantora de música popular brasileira. Ela é conhecida por seu estilo próprio, único, carismático e passional, que passeia por gêneros como rock, jazz, blues, bossa nova e samba-canção. Sua carreira musical começa com o lançamento do seu primeiro álbum em 1979, intitulado “Ângela Ro Ro”.
Ângela Ro Ro é uma cantora, compositora e pianista. O seu sobrenome artístico veio de um apelido de infância, fazendo uma referência ao seu vozeirão rouco. Ela começou a carreira na década de 1970, trabalhando como cantora na noite carioca, até conseguir chamar a atenção das gravadoras.
Ela lançou o seu primeiro disco, que foi marcado pelo sucesso Amor Meu Grande Amor, que a alçou entre os grandes nomes da música popular brasileira.
Nascida Ângela Maria Diniz Gonçalves (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1949), iniciou os seus estudos de piano clássico quando tinha apenas 5 anos, e quando completou 6, já fazia composições com seu acordeão.
No ano de 1971, mudou-se para Londres e alternou o trabalho de faxineira e garçonete com o de cantora e pianista. Já de volta ao Brasil, no ano de 1974, se apresentou nas melhores casas noturnas do estado do Rio de Janeiro, tendo o repertório escolhido de acordo com as suas preferências pessoais: Ella Fitzgerald, Jacques Brel e Maysa, além de muitos outros nomes de destaque no cenário musical brasileiro.
Ela alcançou o seu êxito na década de 1980, mas a artista também já sofreu por conta de polêmicas na mídia, que falavam sobre o seu temperamento forte e também o abuso do uso de drogas.
Ângela Ro Ro e namorada da época Zizi Possi eram um belo casal até que uma acusação de agressão destruiu a imagem do casal e de Ro Ro. A exposição, na época, inspirou muitos de seus trabalhos, como o seu álbum Escândalo (1981).
O seu segundo LP, chamado Só Nos Resta Viver, de 1980, emplaca toda a canção que dá nome ao disco. No ano seguinte, Ângela lançou Escândalo, com uma canção de mesmo nome escrita por Caetano Veloso. Já no álbum Simples Carinho, de 1983, o destaque é a canção homônima escrita por João Donato e Abel Silva, com o arranjo de Antônio Adolfo.
No ano de 1984, ela lança A Vida É Mesmo Assim. É uma canção desse disco Fogueira que se torna a sua segunda música a fazer sucesso, na versão da cantora Maria Bethânia. Os seus dois últimos discos da década de 80 são Eu Desatino de 1985, e Prova de Amor de 1988.
No ano de 2017, ela lançou seu álbum mais recente Selvagem, o primeiro álbum com músicas inéditas em 11 anos.
Uma curiosidade; é que a canção Malandragem foi composta para ela por Cazuza, mas Ângela não gostou da letra da canção e se recusou a gravá-la nos anos 1980. Alguns anos depois, a música foi eternizada na voz da cantora Cássia Eller, um grande sucesso.
Gota de Sangue, de 1979 – escrita por Ângela Ro Ro – A interpretação de Carcará, no ano de 1965, é um grande marco dentro da carreira da cantora Maria Bethânia. Ângela Ro Ro percebeu a qualidade da cantora antes mesmo de ela assistir ao espetáculo chamado “Opinião”, no qual Maria Bethânia cantou a música de João do Vale e José Cândido.
A admiração nasceu no mesmo momento em que Ângela Ro Ro escutou o compacto triplo em que a irmã de Caetano Veloso cantava apenas o repertório de Noel Rosa. Alguns anos depois, em 1979, chegou a vez da admiradora ser gravada por seu ídolo, quando Bethânia deu voz a Gota de Sangue, no álbum Mel, que vendeu cerca de 1 milhão de cópias.
Tola Foi Você (Samba-canção) de 1979 – escrita por Ângela Ro Ro
Ângela Ro Ro se lembra dos seus primeiros shows e como a reação da plateia foi inesperada. Ela se sentiu muito nervosa ao ver todas aquelas pessoas, esperando para assistir ela e seu pianinho acústico.
Ela falava de suas tristezas em músicas feitas quando tinha apenas 20 anos, e “nessa época você exagera no sofrimento que vai vir depois”, como disse Ângela Ro Ro. Ela se recorda com humor da música Tola Foi Você, um samba canção gravado no fim da década de 70.
A versão light de Ângela Maria Diniz Gonçalves talvez soasse como mera quimera nos anos 1980 e 1990, décadas em que essa cantora, compositora e pianista carioca atravessou tempos de forte turbulência emocional.
Mas a vida é mesmo assim, a vida louca vida tem dessas coisas e Ro Ro celebra o 70º aniversário nesta quinta-feira, 5 de dezembro, em forma, amada pelo público e apoiada na obra que construiu desde os anos 1970.
Criado com doses fartas de sensibilidade, o cancioneiro autoral da artista irrompeu há 40 anos como as lavas de vulcão represado em um dos melhores primeiros álbuns de todos os tempos da música brasileira.
O repertório do álbum Ângela Ro Ro (1979) – revivido pela artista ao longo deste ano de 2019 no show Pilotando o piano – ainda embasa carreira que gerou posteriormente pérolas como Só nos resta viver (1980) e Cobaias de Deus (1989, com letra demolidora de Cazuza) entre períodos de menor produtividade nas fases em que desafinou.
Sim, ela desatinou. Mas Ângela Ro Ro sempre se assumiu na vida e na música. Eu desatino, aliás, é o título do sexto álbum da cantora, lançado em 1985 como o derradeiro título da fase mais regular da discografia de Ro Ro.
Foi a primeira cantora de sucesso a se apresentar como lésbica, rejeitando termos socialmente mais convenientes como “bissexual”, Ângela Ro Ro sempre ardeu na fogueira das paixões. Por isso, agita e usa o humor irreverente, por vezes ferino, como combustível pronto para apaziguar as chamas acesas na vida e em canções como a Balada da arrasada (1979) e Cheirando a amor (1979).
Como não há “humor que nunca se aborreça”, a artista às vezes sair do tom, embora amor dentro de si ela sempre tenha demonstrado ter. Pela humanidade, pelos animais, pelo planeta Terra.
Musicalmente, Ângela Ro Ro harmoniza o lamento desesperado do blues, a atitude contestatória do rock, o suingue maroto do boogie e a melancolia dramática do samba-canção em obra que resiste ao tempo.
Não fosse a compositora de Gota de sangue (1979) e Amor, meu grande amor (1979, com letra de Ana Terra), entre outras músicas que seduziram cantoras como Marina Lima (a primeira a dar a voz a Ro Ro em 1979 com gravação lapidar de Não há cabeça) e Maria Bethânia (intérprete original de Fogueira em 1983), Ângela poderia ter se firmado somente como intérprete.
Ângela Ro Ro recebeu vários prêmios ao longo de sua carreira, tais como:
Prêmio Sharp de Música (1990); Prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte (1991); Prêmio da Música Brasileira (2000)
Sua discografia é composta por alguns de seus principais álbuns que incluem:
Ângela Ro Ro (1979); Ângela Ro Ro (1981); Mar de Crystal (1983); A Mulher Invisível (1985); Ângela Ro Ro ao Vivo (2001).
Para “quem tudo sentiu, disse e fez“, como sintetizou em verso de Não há cabeça, Ro Ro surpreende ao completar 75 anos com saúde, em forma vocal, consciente de que, sendo a vida bela (e, sim, “é bonita, é bonita e é bonita”), “só nos resta viver”. A nós, resta saudar os 75 anos de Ângela Maria Diniz Gonçalves.
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(*) Historiador, Jornalista, Professor de História/Geografia/Filosofia/Sociologia