FOLIA DE REIS, REISADO OU FESTA DE SANTOS REIS (O SACRO E O PROFANO; UM SINCRETISMO NATALINO)

FOLIA DE REIS, REISADO OU FESTA DE SANTOS REIS (O SACRO E O PROFANO; UM SINCRETISMO NATALINO)

Data:

(!) Por TJGuimarães

 

Essa festa é uma manifestação de cunho religioso (católica) de origem europeia que consiste na visitação às casas dos devotos, promesseiros e demais interessados no culto aos Santos Reis. É praticada por adeptos e simpatizantes do catolicismo, no intuito de rememorar a atitude dos Três Reis Magos (Melchior, rei da Pérsia; Gaspar, rei da Índia; e Baltazar, rei da Arábia). A Folia de Reis é um dos ativos culturais mais importantes do nosso Estado.

 Origem – Essa história é relatada na Bíblia, no capítulo 2 (dois) do Livro de São Mateus ou O Evangelho, Segundo Mateus. Fixado o nascimento de Jesus Cristo em 25 de dezembro, adotou-se a data da visitação dos Três Reis Magos como sendo o dia 6 de janeiro.

 Esse festejo foi trazido para o Brasil no final do período colonial (provavelmente no começo do século XIX), pelos portugueses. Porém, de acordo com estudiosos do assunto, esta manifestação religiosa tem sua origem na Espanha. A sua porta de entrada foi o nordeste brasileiro. Porém, no Brasil, esta Festa ganhou traços culturais bem particulares, incorporando aspectos da cultura brasileira. Um destes exemplos está presente na música, com a presença das batidas típicas dos tambores africanos. Vale dizer também que ela possui adaptações e/ou releituras singulares em cada cidade ou região de sua manifestação.

 Estas manifestações festivas estendem-se até a data consagrada aos Três Reis Magos, dia 06 de janeiro. Trata-se de uma tradição vinda da Espanha que ganhou força especialmente no século XIX e que se mantém viva em muitas regiões do Brasil, sobretudo nas pequenas cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás.

 A visitação das casas, que dura do dia 24 de dezembro até o Dia de Reis, é feita por grupos organizados, muitos dos quais motivados por propósitos sociais e também filantrópicos. É o sacro e o profano em união de forças nas festas natalinas.

 Cada grupo, chamado em alguns lugares de Folia de Reis, em outros, Terno de Reis, é composto por músicos, tocando instrumentos, em sua maioria de confecção caseira e artesanal como tambores, reco-reco, flauta e rabeca (espécie de violino rústico), além da tradicional viola caipira e do acordeão ou sanfona, gaita ou pé-de-bode.

 Além dos músicos instrumentistas e cantores, o grupo muitas vezes se compõe também de dançarinos, palhaços e outras figuras folclóricas devidamente caracterizadas, segundo as lendas e tradições locais. Todos se organizam sob a liderança do mestre da folia e seguem com reverência os passos da bandeira, cumprindo rituais tradicionais de inquestionável beleza e riqueza cultural.

 As canções são sempre sobre temas religiosos, com exceção daquelas tocadas nas tradicionais paradas para jantares, almoços ou repouso dos foliões, onde acontecem animadas festas com cantorias e danças típicas regionais como catira, moda de viola e cateretê. Contudo ao contrário dos reis da tradição, o propósito da folia não é o de levar presentes, mas de recebê-los do dono da casa para finalidades filantrópicas, exceto, obviamente, as fartas mesas dos jantares e as bebidas que são oferecidas aos foliões.

 RITUAL – Liderados pelo Capitão da Folia, seguem reverenciando a bandeira, carregada pelo bandeireiro. A bandeira carrega o símbolo desta folia. Decorada com figuras que levam a reverência ao menino Jesus, feita geralmente de tecido, é enfeitada com fitas e flores de tecido ou papel, sempre costuradas ou presas com alfinete, nunca amarradas com nós cegos, para segundo a crença não “amarrar” os foliões ou atrapalhar a caminhada.

 Ao chegar às casas que os recebem, a primeira a entrar é a bandeira, que fica hasteada e todos então cantam a canção de chegada. Em seguida acontecem as paradas para os almoços e jantares, oferecidos pelos donos das casas e que são agradecidos pelos foliões com modas de viola e danças como o cateretê e catira.

 O Bastião ou palhaço, que usa roupas coloridas, máscara e carrega uma espada e é o responsável por abrir passagem para a Folia, também recita poesias e cita passagens da Bíblia. Os demais participantes se dividem de forma que cada um cante de uma maneira no coro de vozes.

 O mestre, sempre inicia os cânticos, é a posição mais importante do grupo, pois ele é o responsável pelo andamento dos cantos, da colocação das vozes, é como se fosse um maestro, além de ser o que mais conhece a origem do grupo, os fundamentos e a sua trajetória.

 Com versos improvisados de agradecimento pela acolhida, os demais, cada qual na sua voz e vez, repetem os versos acompanhados pelos seus instrumentos. Estes instrumentos são sempre enfeitados com fitas coloridas, cada cor representa um simbolismo, rosa, amarela e azul, podem representar Maria, a branca o Espírito Santo.

 PRINCIPAIS PERSONAGENSTrês reis magos: representam os reis magos que visitaram Jesus e o presentearam com incenso, ouro e mirra. Mestre palhaço: responsável pela animação da festa. Coro: canta as músicas, louvores e entoações de cânticos religiosos; Mestre ou Embaixador: responsável pela organização da festa. Bandeireiro: espécie de porta bandeiras da festa. Essa bandeira geralmente é feita com tecido brilhante e tem a imagem dos três reis magos estampas. Festeiro: é em sua casa que geralmente ocorre a cerimônia da “tirada da bandeira”. Banda musical: músicos uniformizados tocando violão, sanfona, zabumba, pandeiro, surdo, caixa, triângulo e flauta.

 PATRIMÔNIO IMATERIAL – A Folia de Reis, Reisado ou Festa de Santos Reis, foi reconhecida pelo Conselho Estadual de Patrimônio de Minas Gerais (CONEP) como Patrimônio Imaterial do Estado desde o dia 06 de janeiro de 2017. O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) pesquisou e levantou mais de 1.500 Folias em Minas Gerais e mais de 50 tipos de devoção. Esse reconhecimento é uma espécie de selo de qualidade que se dá a um bem cultural, para que todos deem a devida atenção à sua manifestação.

 As Folias existem em Minas Gerais desde os tempos coloniais, encontrando terreno fértil primeiro nas fazendas, depois no meio urbano, sempre no período natalino. A sua condição de patrimônio imaterial vai criar um diálogo maior entre os órgãos públicos e estas associações de forma a fazer com que o poder público se comprometa com o estabelecimento de medidas de salvaguarda, capazes de incentivar a perpetuação dessa manifestação cultural tão enraizada em nossos corações.

 

(!) Historiador, Jornalista, Professor de História/Geografia/Sociologia/Filosofia

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