(*) Por TJGuimarães
A cidade de João Monlevade tem como elemento fundamental de sua identidade a atividade siderúrgica
Para tocar um projeto dessa envergadura, nada melhor como ter por perto, em suas cercanias, uma Vila Operária.
As Vilas Operárias existem desde a antiguidade. Guardando as devidas proporções, esse modelo de agrupamento existiu lá na construção das Pirâmides de Gizé. O intuito das mesmas era facilitar a vida de todos (operários, a indústria e o patrão) e, por que não, um certo controle social e econômico sobre a vida do operariado.
Não! Monlevade não foi a primeira e tampouco a segunda Vila Operária do Brasil. Isto não é nenhum demérito e/ou tira a importância dela. As primeiras Vilas Operária do Brasil foram: Vila de Paranapiacaba (1865/1867), encravada na Serra do Mar, na Cidade de Santo André, São Paulo, construída pela São Paulo Railway e a Companhia Empório Industrial do Norte (1890), fundada por Luís Tarquínio na cidade de Salvador, Bahia. Depois, se teve inúmeras Vilas Operárias construídas em São Paulo e no Rio de Janeiro, principalmente em função das fábricas de tecidos. Como exemplos podemos citar: Vila Maria Zélia (1912/1917), fundada por Jorge Street, no Bairro do Belém em São Paulo, capital (1917).
Com a implantação da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira em Monlevade, não foi diferente. A necessidade de mão de obra, deficiência e precariedade das moradias e distância do local de trabalho, fez com que essa Companhia lançasse um concurso para o Plano Urbanístico da Cidade/Vila Operária de Monlevade.
Em 1934, foi realizado o concurso no qual arquitetos de todo o país puderam elaborar projetos para a futura “cidade operária”. O engenheiro Louis Jacques Ensch foi o escolhido para tocar e idealizar o distrito que viria a se tornar a cidade de João Monlevade e, planejar e organizar a usina, definitivamente instalada no ano de 1935.
A proposta do projeto contemplava: moradias operárias, serviço médico, clubes esportivos e recreativos, escola, igreja, cinema, comércio e um lactário. Foram apresentadas 13 propostas urbanísticas, dentre as quais as do engenheiro Lincoln Continentino e a do arquiteto e urbanista Lúcio Costa.
A distribuição da população nos espaços do distrito levaria em conta a ocupação desempenhada pelo trabalhador na Usina, além do tamanho de sua família. Foram disponibilizados projetos a partir de sete (7) tipos de casas, sendo que, inicialmente, foram previstas 300 moradias, preferencialmente destinadas aos trabalhadores casados.
O vencedor desse concurso foi o projeto do engenheiro Lincoln Continentino. O projeto do Lúcio Costa ficou em último lugar.
O Plano de Urbanismo para a Cidade Operária de Monlevade desenvolvido por Lincoln Continentino teve a participação de João Penna Filho e a colaboração de Alberto Peres, Agostinho Catella, Nelson Cesar Pereira, Shakespeare Gomes e José Cantagalli.
Claro e normal que o projeto vencedor não foi executado à risca. A implementação do Plano Urbanístico ficou a cargo do engenheiro belga Louis Jacques Ensch, que aproveitou parcialmente as proposições técnicas das equipes, em particular a organização geral proposta por Lincoln Continentino e equipe.
A construção da Vila Operária se iniciou no entorno da Usina, em estilo neoclássico, instalando-se ali posteriormente clubes, casino, hotéis, igreja, escolas, lojas, bares, empórios, farmácias e assistência médica que atendia aos trabalhadores e seus familiares; uma Emissora de Rádio – Rádio Cultura de João Monlevade e também o Cine Monlevade, um dos poucos na região.
O Social Clube (para os “gringos”) foi o primeiro a ser construído em 1945; posteriormente surgiram outros dentro da Vila Operária, tais como: Ideal Clube; Grêmio Esportivo Monlevadense e o Clube de Caça e Pesca.
Depreende-se do exposto que, a Monlevade de hoje só existe graças à visão empreendedora, utilitarista, patriarcalista (por que não) e futurista da Usina (seus prepostos). Uma comunidade feita a Ferro e Fogo!
(!) Historiador, Jornalista, Professor de História/Geografia/Filosofia/Sociologia