DISPARADA – JAIR RODRIGUES / VANDRÉ / THEO DE BARROS (FESTIVAIS; ALAVANCANDO CARREIRAS, CONCRETIZANDO SONHOS)

DISPARADA – JAIR RODRIGUES / VANDRÉ / THEO DE BARROS (FESTIVAIS; ALAVANCANDO CARREIRAS, CONCRETIZANDO SONHOS)

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(*) Por TJGuimarães

Foi com esta música que Jair Rodrigues viu sua carreira sofrer uma grande e definitiva explosão no cenário musical nacional. Foi uma das principais composições da década de 1960, época dos grandes e envolventes Festivais de Música Popular Brasileira (MPB), tendo a TV Record atuação de maneira marcante na sua difusão.

Como o mundo nos prega peça não? O Geraldo Vandré não queria que o Jair Rodrigues cantasse esta música. Segundo o compositor, seu gestual e alegria eram questionáveis e incompatíveis para interpretar a letra e o arranjo da música. Conforme alguns críticos, a preocupação de Vandré até que não era desproposita. Afinal, a irreverência do cantor era conhecida por todos no palco e nos bastidores da música. Além do gestual, estava sempre vestido com roupas coloridas, e era visto por alguns como um artista específico para shows ao vivo. deu no que todos já sabemos.

Disparada ficou imortalizada neste II Festival de Música Popular Brasileira da Rede Record, em outubro de 1966, na voz de Jair Rodrigues, acompanhado do Trio Maraiá e do Trio Novo (Heraldo Monte, Théo de Barros e Airto Moreira e sua queixada de burro). Ela e “A Banda” de Chico Buarque, na voz de Nara Leão, foram as vencedoras do Festival.

Dias depois do sucesso da música, Jair Rodrigues deu uma entrevista a um jornal da cidade e explicou porque era o cantor ideal para ela: “Meu pai morreu no lombo de um burro. Ele era boiadeiro, o velho Severiano Rodrigues de Oliveira. Acho que o ‘Disparada‘ tem muita coisa a ver com ele”. A história dele com esta música é um dos casos clássicos em que música e cantor se tornam indissociáveis.

A disputa entre as duas músicas foi apertada e acirrada a ponto de dividir a plateia, a audiência e virar tema de comentário em toda a cidade de São Paulo. Nas eliminatórias do festival, “Disparada” se classificou na primeira, a “A Banda”, na segunda. No dia da grande final, realizada no Teatro Record, na rua da Consolação – São Paulo, cinemas e teatros chegaram a cancelar sessões de suas atrações, tamanho o alvoroço causado por este Festival.

O resultado anunciado pelo apresentador Randal Juliano sacramentou o empate entre as duas músicas em primeiro lugar. O que a maioria das pessoas nunca soube, até 2003, é que o empate não aconteceu de fato. Os jurados reunidos deram vitória para “A Banda”, mas uma sequência de decisões mudou o rumo da história.

Primeiro, Chico Buarque, deixou claro nos bastidores, que não aceitaria o prêmio, porque ele considerava “Disparada” melhor que sua música, “A Banda“. Ao saber disso, um dos diretores e herdeiros da TV Record, Paulinho Machado de Carvalho, foi até a sala dos jurados e falou sobre a o comentário e decisão de Chico Buarque.

Isto influenciou o grupo a optar pelo empate, ponderando que seria a única forma de não deixar metade da plateia, e da audiência, frustradas. Comunicou o acerto a Chico, que aceitou dividir o prêmio, mas os outros compositores e demais participantes foram informados de que teria havido empate entre os jurados – seis votos para cada música.

EmDisparada“, Geraldo Vandré faz uma comparação entre a exploração das classes sociais pobres pelas classes mais ricas e a exploração das boiadas pelos boiadeiros, entre o modo de se lidar com gado e o modo de se lidar com gente. A música composta por Vandré e Theo de Barros complementou de forma brilhante e incontestável os versos de Vandré e a interpretação de Jair Rodrigues deu forma final apoteótica aos versos e à música em questão.

Logo após os anos de ouro dos Festivais, Geraldo Vandré isolou-se de todos passando a viver de forma espartana e isoladamente; paralelamente e após o sucesso dessa música, Theo de Barros deu continuidade à sua carreira de cantor, músico e arranjador, tendo se dedicado à música de raiz e a jingles comerciais.

Segundo Zuza Homem de Mello, “A Banda” seria a real vitoriosa, por sete votos a cinco. O fato, por sinal, não é novo, e já comentado em revistas e jornais. O curioso fica por conta do fato de que Chico Buarque teria exigido o empate, por acreditar na superioridade da canção de Vandré. Se ele fosse escolhido o vencedor, desistiria do prêmio no palco. Depois do “arranjo”, sem o Chico saber, ficou a sua demonstração de altruísmo e reconhecimento da qualidade musical de “Disparada” justificando a vitória de ambos.

 

(*)) Historiador, Jornalista, Professor de História/Geografia/Filosofia/Sociologia

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