A concorrência com as siderúrgicas chinesas tem levado a indústria nacional a reduzir os níveis de produção
Em 2023, os números da siderurgia foram gravemente afetados com a “inundação” de aço no País, sobretudo, da China. Companhias renomadas tomaram medidas drásticas devido à situação. Uma delas é a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), que desativou o alto-forno 1 e demitiu mais de 100 pessoas na planta de Ipatinga. Em virtude da não solução do problema, a empresa também não descarta o risco de desligar o alto-forno 2 e demitir novos funcionários.
Conforme o CEO da Usiminas, Marcelo Chara, a possibilidade de abafar ou não o alto-forno 2, cuja capacidade de produção é de 600 mil toneladas de ferro-gusa, assim como o de número 1, desativado em dezembro último, vai depender das posições do mercado. Segundo ele, se a importação descontrolada continuar e o aço subsidiado seguir sendo validado no Brasil, a empresa não terá como competir, o que torna possível uma nova redução produtiva.
“Estamos preparando uma denúncia de dumping (da China) e vamos apresentar casos, na próxima semana, perfeitamente fundados e reportados, porque isso está destroçando a indústria. Abafamos o alto-forno 1 devido às condições de mercado. Não há nenhuma outra explicação. Ele estava em condições de continuar produzindo e fornecendo, mas isto é impossível”, afirmou o executivo ontem, durante a cerimônia de retomada do alto-forno 3, religado em novembro.
Em entrevista coletiva, além de pedir isonomia às empresas nacionais, o CEO também disse que é difícil imaginar um novo grande aporte da empresa com o cenário atual. Chara ainda destacou que a Usiminas completou, no ano passado, um ciclo de investimento histórico de R$ 3,2 bilhões. E ressaltou que o foco da companhia mineira está, agora, na manutenção das operações.
Governo do Estado
Em Ipatinga para participar do evento de retomada do alto-forno 3, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também comentou sobre o momento da siderurgia brasileira e endossou o pleito das siderúrgicas em prol da elevação da taxa de importação de 9,6% para 25%.
De acordo com ele, o aço está subtaxado e é necessário elevar a alíquota dos produtos siderúrgicos para que a China não tome conta do mercado. Conforme Zema, o governo mineiro está lutando para que isso seja solucionado e já levou a questão ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). A pasta, porém, ainda não respondeu.
“Minas Gerais é o maior produtor de aço do Brasil. Boa parte está concentrada aqui, em Ipatinga, na Usiminas. Já levamos ao ministro da Indústria e Comércio (Geraldo Alckmin) a necessidade de se rever a tarifa de importação do aço e temos cobrado. Como não sou eu quem toma essa decisão, fico um tanto quanto limitado. Mas já deixamos claro que isso acaba prejudicando a indústria brasileira, que só tem perdido espaço nas últimas décadas”, relevou.
E completou: “A produção de aço no Brasil é quase igual ao que era há 30 anos, enquanto vários países multiplicaram por cinco, por dez. Então, me parece que há certa omissão do governo federal em relação a essa taxa do aço. Não queremos nada diferente do que é no México, Estados Unidos e em outros paises latino-americanos. Não queremos que um aço que, provavelmente é produzido com algum tipo de subsidio, chegue mais barato e tome os empregos dos mineiros”.
Investimentos no alto-forno 3
Durante a solenidade, Tanto Zema quanto Chara também destacaram a importância da retomada do alto-forno 3, que promete aumentar a eficiência energética da Usiminas e reduzir as emissões de carbono. O equipamento é o maior da companhia e tem capacidade de produzir três milhões de toneladas de ferro gusa por ano. Ele passou por obras de modernização sob aportes de R$ 2,7 bilhões. Durante as intervenções, mais de nove mil pessoas foram contratadas temporariamente.
* O repórter viajou a convite da Usiminas para Ipatinga
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Fonte: Diário do Comercio