(!) Por TJGuimarães
(Musical/Tragédia/Monólogo/Livro: pode ser a GOTA ’ÁGUA!?!)
Prefácio do livro: “O fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser devolvida, nos palcos, ao público brasileiro. Esta é a segunda preocupação de Gota d’Água. Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira.”
Gota d’água é o título de uma peça teatral de autoria dos escritores brasileiros Chico Buarque e Paulo Pontes, contendo quatro músicas compostas por Chico. Ela foi escrita em 1975 e publicada em livro homônimo também em 1975, pela editora Civilização Brasileira.
A ideia foi derivada de um trabalho de Oduvaldo Viana Filho, que adaptara a peça grega clássica de Eurípedes, ‘Medeia’, para a televisão. Com direção de Gianni Ratto. A versão original da peça contava com Bibi Ferreira no papel da protagonista, Joana mais elenco.
A abordagem aqui se refere à original e primeira. Tem-se mais releituras da peça, tais como: Gota D’Água a seco e Gota D’Água [Preta].
Gota d´água estreou no Rio de Janeiro no dia 26 de dezembro no Teatro Tereza Rachel, com Bibi, Oswaldo Loureiro, Luiz Linhares, Roberto Bonfim, Beth Mendes, Carlos Leite, Sônia Oiticica, Isolda Cresta e Norma Suely, entre outros. Depois o musical foi para o Teatro Carlos Gomes, onde ficou até fevereiro de 1977. Depois foi para São Paulo, iniciando uma temporada de 650 apresentações no Teatro Aquarius, em 29 de abril de 1977, onde bateu o recorde de venda de ingressos do local (o recorde anterior também era de Bibi, em My Fair Lady).
Gota d’água é uma ‘Medeia’ brasileira. Chico Buarque e Paulo Pontes se reuniram para revitalizar o texto de Eurípedes em cima do trabalho do Oduvaldo Viana.
No teatro ainda permanecia a censura de então. A primeira montagem da peça foi censurada pela ditadura militar. Pontes negociou com os censores alguns cortes no texto original fazendo com que o musical pudesse ser encenado. Mesmo assim, foi sucesso absoluto de público e de crítica.
A peça foi premiada com o Prêmio Molière que os autores recusaram em sinal de protesto contra a proibição, no mesmo ano, de obras de outros autores, como “O abajur lilás”, de Plínio Marcos e “Rasga coração”, de Oduvaldo Vianna filho.
Na montagem original, as quatro canções principais foram cantadas pela própria Bibi Ferreira (Basta um Dia, Bem Querer, Veneno e Gota D’Água) em uma das mais elogiadas performances brasileiras já feitas, sendo que o vocal das outras músicas contava com o elenco geral, em um paralelo com o tradicional coro presente em praticamente todas as tragédias da ‘Medeia’ grega – incumbido de explicitar o conflito principal e refletir sobre as condições sob as quais os protagonistas se encontram. e direção geral de Gianni Ratto.
Submetendo-o a uma injeção de nossa realidade urbana. ‘Medeia’ é uma história de reis e feiticeiros. ‘Gota d’água’ é uma história de pobres e macumbeiros. Medeia é Joana, mulher de meia idade, sofrida, moradora de um conjunto habitacional. Jasão aqui, é ele mesmo, ainda jovem, vigoroso, sambista que desponta para o sucesso com uma música chamada ‘Gota d’água’. Creonte também conserva o nome, e na peça é o todo-poderoso do local, dono das casas, muito rico, o poder corruptor por excelência. A filha de Creonte é Alma, mocinha de veleidades pequeno-burguesas. A aia de ‘Medeia’ é Corina, amiga e confidente de Joana, que enquanto lavam roupa vão desenrolando o fio da história.
Dividida em dois atos, Gota d’Água espelha uma tragédia urbana, banal nos grandes centros, tendo como cenários, as favelas do Rio de Janeiro, onde está ambientada; os sets retratam um botequim, local de encontro dos homens e, ao lado, o set das lavadeiras, onde as personagens femininas conversam. No set da oficina, está o velho Egeu, e onde passam alguns amigos.
Retrata as dificuldades vividas por moradores de um conjunto habitacional, a Vila do Meio-Dia, que na verdade são o pano-de-fundo para o drama vivido por Joana e Jasão que, tal como na peça original, larga a mulher para casar-se com Alma, filha do rico Creonte.
Sem suportar o abandono e, para vingar-se, Joana mata os dois filhos e suicida-se. Na cena final, os corpos são depositados aos pés de Jasão, durante a festa do seu casamento.
“Tudo está na natureza encadeado e em movimento – cuspe, veneno, tristeza, carne, moinho, lamento, ódio, dor, cebola e coentro, gordura, sangue, frieza, isso tudo está no centro de uma mesma e estranha mesa”. Trecho da peça Gota D’água.
“Já lhe dei meu corpo, minha alegria | já estanquei meu sangue quando fervia |olha a voz que me resta | olha a veia que salta | olha a gota que falta pro desfecho da festa | por favor | Deixa em paz meu coração | que ele é um pote até aqui de mágoa | e qualquer desatenção, faça não | pode ser a gota d’água…| Trecho da música, Gota D’água.
(!) Historiador, Jornalista, Professor de História/Geografia/Sociologia