MINEIRIDADE – Parte I

MINEIRIDADE – Parte I

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(EITA TREM BÃO DIMAIS UAI!)

A ORIGEM DA EXPRESSÃO “UAI”:

Conhecida por fazer parte do modo de falar dos mineiros, a interjeição “UAI” é usada para expressar espanto, surpresa ou impaciência. Na verdade, dependendo do jeito que for usada, pode acabar tendo muitos significados. Embora não se conheça sua origem com exatidão, existem duas hipóteses nesse sentido.

 A primeira hipótese é proveniente dos tempos da Inconfidência Mineira. Os Inconfidentes Mineiros, patriotas, mas considerados subversivos pela Coroa Portuguesa, comunicavam-se através de senhas para se protegerem da polícia lusitana. Como conspiravam em porões e sendo quase todos de origem maçônica, recebiam os companheiros com as três batidas clássicas da Maçonaria nas portas dos esconderijos.

Lá de dentro perguntavam: Quem está aí?

Os de fora respondiam: UAI – eram as iniciais de “União, Amor e Independência”.

Somente mediante o uso dessa senha a porta seria aberta ao visitante.

Sendo a revolta descoberta, sobrou essa senha, que acabou virando costume entre as pessoas (mineiros) das Alterosas.

 A segunda hipótese data de 1824, época em que a primeira empresa britânica se instalou em Minas Gerais. A Imperial Brazilian Mining Association. Ela permaneceu quase três décadas atuando na exploração de ouro e, desta forma, propagando a língua e os costumes da terra da rainha da Inglaterra. Assim, a expressão “UAI” seria uma versão nacional da palavra why (“por quê?”, em inglês), que possui uma fonética idêntica e um sentido bastante semelhante.

Nós mineiros, acabamos por assumir a simpática palavrinha e, a partir de então, ela foi incorporada ao vocabulário cotidiano.

 Claro que, pelas próprias características, essa história tem um jeitinho de ter sido cuidadosamente inventada.

 A Etimologia se presta muito a esse tipo de abordagem um tanto suspeita. Por uma outra hipótese apresentada, essa interjeição tem origem muito mais antiga; derivaria do Latim VAE, “ai”, passando para o português pela forma UAI.

 Onde o mineiro estiver ele carrega consigo as nossas identidades. Seja no jeito de falar, de expressar ou nos gostos, principalmente o culinário. Em termos de comida então???! O mineiro é muito original.

 Ser mineiro é esperar pela cor da fumaça. É dormir no chão pra não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão na cumbuca. É não dar passo maior que as pernas. É não amarrar cachorro com linguiça.

 Ser mineiro não é apenas uma questão geográfica, é antes de tudo, um estado de espírito. É falar pouco e escutar muito. É não laçar boi com embira. É não dar rasteira no vento. É não pisar no escuro. É não andar no molhado. É só acreditar na fumaça quando se vê o fogo. É não trocar um pássaro na mão por dois voando. Mineiro, se fica em cima do muro, não é por indecisão ou imparcialidade, mas sim, para ver melhor os dois lados.

 ALGUMAS DAS NOSSAS MINEIRIDADES

– Ser mineiro – Devagar que eu tenho pressa;

– Se melhorá, piora;

– Eita vidinha mais ou menos;

– Cê ta joia? – Você está bem, tudo legal, ótimo;

– Cê dá trabai dimais – Você dá muito trabalho, incomoda, importuna, preocupação;

– Cê mexe com que? Com o que você trabalha, qual a sua atividade profissional?

 TACHO DE COBRE

A cena de fazer doces nos tachos de cobres é comum até os dias de hoje nas cozinhas das fazendas e até em casas nas cidades mineiras. Sabe por que a preferência do mineiro pelo tacho de cobre? Porque ele preserva a cor original da fruta. Ou seja, o doce de mamão fica verdinho, de laranja da terra, amarelo. O doce de limão fica da cor do limão. O doce de figo fica da mesma cor quando os frutos foram colhidos. Por isso que nossos doces são feitos no tacho de cobre, que além de manter a cor original, preserva o sabor original das frutas também. Não são à toa que nossos doces sempre foram considerados os melhores. Pronto, contei nosso segredo.

 PANELA DE FERRO

Além da panela em pedra sabão, outra panela é uma de nossas identidades. É a panela de ferro fundido. No final do século 19 e início do século 20, os famosos caldeirões de ferro já dominavam as cozinhas mineiras. Era raro não serem encontradas nas cozinhas das casas na cidade e das fazendas. As panelas são resistentes, duram décadas e muitas delas passam de geração a geração. Em Minas tem famílias que têm essas panelas e caldeirões com mais de 150 anos de uso. Uma cozinha mineira sem panela de pedra sabão e de ferro, não é cozinha mineira. Elas dão mais sabor à nossa gastronomia e nos identificam.

 PANELA EM PEDRA SABÃO

Pedra sabão é uma rocha abundante em Minas, principalmente na região do quadrilátero ferrífero, onde está Ouro Preto e Ouro Branco, onde se concentra boa parte das rochas de pedra sabão no Brasil. Além do artesanato variado que a pedra sabão origina, as panelas feitas com a rocha estão presentes nas cozinhas mineiras desde os tempos do Brasil Colônia. São panelas maravilhosas, perfeitas para o cozimento e o sabor da comida é outra coisa. Deliciosa mesmo.

 CARNE DE LATA

Conservar a carne do porco na banha é uma prática existente em Minas desde o final do século XVII. Com a chegada dos bandeirantes ao território mineiro, em busca de ouro, surgiu a necessidade de se armazenar alimentos, já que o território era imenso e as viagens longas. Assim surgiu a carne na lata, presente até nos dias de hoje em nossas mesas, não por falta de geladeira para conservar as carnes, mas porque é uma das nossas identidades e a carne armazenada na lata na banha é “bão dimais”.

 LICOR

A bebida é de origem europeia, veio para Minas Gerais com os portugueses no período do Ciclo do Ouro. Com a grande quantidade de frutas que existe no Brasil, a bebida logo caiu no nosso gosto, passando a estar presente em todas as casas mineiras. Nas salas, as visitas eram recebidas com licor, um sinal de amizade e descontração. Até os dias de hoje é assim. Licor faz parte da nossa identidade e pelo talento que o mineiro tem para criar receitas, foi até aprimorado. Além do licor de frutas tropicais, temos hoje licor de chocolate, café e outros sabores.

 

O TREM NÃO ACABOU NÃO.  DEPOIS EU CONTO MAIS UAI!?

 (!) Historiador, Jornalista, Professor de História/Geografia/Sociologia

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