Tarde ensolarada de domingo em agosto de 1988 e o estádio Louis Ensch, em João Monlevade, estava em festa. E não era para menos. Às 16 horas, a equipe titular do Clube Atlético Mineiro, então com um grande elenco, pisaria no gramado do histórico campo do bairro Areia Preta para um duelo com a também fortíssima seleção de Monlevade.
Os atleticanos e até mesmo os monlevadenses torcedores de outros clubes estavam em polvorosa e chegaram cedo para garantir seu lugar no disputado estádio vizinho à então Companhia Siderúrgica Belgo Mineira. O Louis Esnch estava bonito de se ver e marcou a memória de um franzino garoto de 13 anos, apaixonado por futebol e pelo Galo das Alterosas.
Campo cheio, clima de festa, imprensa local e da região a postos, e os dois times entram em campo. De um lado o time da capital, comandado por ninguém mais ninguém menos que o saudoso, respeitado e lendário treinador Telê Santana, técnico da seleção brasileira nas duas últimas copas do mundo que antecederam aquela tarde de 1988. E Telê tinha em seu escrete o zagueiro Luisinho (titular na Copa de 1982 e um dos maiores na posição no futebol brasileiro), os meias Éder Lopes, Moacir (craque e também com passagens na seleção nacional), Marquinhos e Vander Luís, os atacantes Sérgio Araújo (lendário pela rapidez e habilidade), Aílton e Renato Morungaba (também com Copa no currículo) e, para abrilhantar ainda mais a festa, o filho da terra e lateral-esquerdo Lourenço, titular naquela tarde, já que o dono da posição, o histórico Paulo Roberto Prestes, o lateral com o maior número de jogos pelo clube, nem viajou a Monlevade, claro, para não estragar a festa do filho ilustre. Uma homenagem do Galo ao jogador que, inclusive, foi presenteado com uma placa naquele dia, passada a ele pelo também lendário e, por ironia do destino, cruzeirense roxo e um dos fundadores da torcida organizada Cruzaço, Lúcio “Perereca”.
A seleção local também tinha um belo time e deu muito trabalho ao Alvinegro das Minas Gerais. Vestiram a camisa alviverde de João Monlevade os craques Grassim (um dos melhores jogadores da história do futebol monlevadense, que na ocasião deu muito trabalho a Lourenço e foi alvo de vários xingamentos por parte de um irritado Telê), Jânio, Gatão, Ênio, Bicão, os irmãos Du e Dé, Gê, Fernando Pastel (hoje prefeito de São Domingos do Prata) e vários outros atletas da, talvez, última geração de ouro do futebol de campo na cidade.
Equilíbrio – O resultado de um jogo equilibrado e muito disputado foi um 2 a 0 para o Galo, onde prevaleceram a tradição da camisa pesada de um clube grande do futebol brasileiro e a diferença na preparação física entre as duas equipes. Os gols da tarde foram marcados pelo jovem zagueiro Flávio e pelo centroavante itabirano Saulo, que buscava espaço em uma equipe repleta de jogadores consagrados e vinha do Valério, de Itabira.
Uma tarde inesquecível para um adolescente apaixonado por futebol e para boa parte dos monlevadenses. Apaixonado e privilegiado, por ter assistido a partida por um ângulo especial, bem ao lado do banco de reservas do Atlético e do técnico Telê Santana.
(!)) Jornalista, Escritor e Contador de “causos”